sexta-feira, 30 de março de 2018

Jiu Jítsu é esporte obrigatório nas escolas, nas Forças Armadas e na Polícia desde novembro de 2013 em Abu Dhabi

Jiu Jítsu é esporte obrigatório nas escolas, nas Forças Armadas e na Polícia desde novembro de 2013 em Abu Dhabi
No começo dos anos 2000, Caroline de Lazzer, faixa-preta de jiu-jítsu, acordava cedo para correr pelas ruas de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, onde morava. Colocava uma calça de ginástica, camisa regata, um tênis confortável e ia se exercitar. Uma cena normal no cotidiano brasileiro. Nove anos depois, em uma hípica de Abu Dhabi, foi repreendida nas mesmas condições. As roupas eram semelhantes, os princípios e a cultural do local, não. - Fomos chamadas pelos seguranças, que proibiram a gente de correr de legging e camiseta, roupa normal em qualquer lugar do mundo, menos aqui, porque iríamos perturbar o ambiente. Só se fosse perturbar os cavalos, porque era uma hípica (risos). Na época encrencaram com isso, era mais conservador do que hoje em dia. Imagina uma brasileira não poder usar legging? Eles ainda têm essa mentalidade, alguns clubes não são permitidos que mulheres treinem. Existe uma restrição grande, e os locais não gostam de treinar
onde tem mulher. O treino tem que ser separado. Tudo é questão de adaptação, às vezes,
nos revoltamos, mas nos adaptamos ao contexto.
O choque cultural entre Brasil e Abu Dhabi é sentido mais pelas mulheres do que pelos homens. Campeã mundial de jiu-jítsu, De Lazzer mora nos Emirados, onde ensina a arte suave, desde 2009. Está adaptada, respeita os hábitos dos nativos e conta que acabou mudando a forma de se vestir, por exemplo, após sete anos na nova casa. A falta que ela sente do Brasil é de andar na rua, o que pouco se faz no clima árido do país, onde se vê muitos carros e poucos transeuntes.
- Eu gostava de andar a pé, é uma coisa que eu sinto falta. Aqui é impossível. Logo que cheguei tive a brilhante ideia de ir andando do shopping para o hotel. Eu me senti um camelo (risos). Estava quente, um sol de rachar a cabeça. Cheguei no hotel muito irritada, querendo voar na jugular de quem falasse comigo (risos) - diverte-se, em entrevista ao Combate.com.
Em Abu Dhabi, o consumo de bebidas alcoólicas em locais públicos é proibido. A venda é restrita, embora hotéis e bares possam comercializá-las. Por ser atleta, De Lazzer não sente falta da cerveja, contudo, a conversa fiada em um barzinho no fim de semana é um programa que não pode ser substituído.
 Eu não sinto falta de beber, porque nunca fez parte da minha rotina. Mas sentimos falta do barzinho, daquela música ao vivo, conversar com os amigos, aquela liberdade. Aqui é tudo lindo, maravilhoso, ao passo que parece "fake" (falso) também. Quando viajo para o Brasil vou ao boteco. Eu não ia tanto, mas parece que quando você não pode fazer, sente mais falta. No Brasil, você pode curtir até às 6h da manhã, até o sol nascer, aqui tudo fecha às 2h. Sinto falta da música ao vivo.
Lutadora da GFTeam, Vanessa Oliveira está em Abu Dhabi vivendo do jiu-jítsu, esporte obrigatório nas escolas, nas Forças Armadas e na Polícia. Desde novembro de 2013 no país, ela afirma que o fato de a maior parte da população ser formada por imigrantes não faz as regras serem tão rígidas. Ela, porém, não se incomoda..
- Não preciso cobrir o cabelo, usar a baia para cobrir a roupa, nada disso. Ando normalmente.  Particularmente, se eu saio com uma blusa de alça, coloco um casaquinho por cima ou uma blusa de manga. O pessoal reclama que aqui não tem bar para sentar e beber, mas, eu não fazia isso no Brasil, então, não tem diferença. A diferença cultural existe, mas não senti nada muito negativo por ser uma brasileira. Eu até gosto do jeito reservado daqui. Você não pode ter manifestação afetiva na rua. No Brasil isso ficou muito comum, não acho legal. Não vejo como ponto negativo. Estou muito bem adaptada à cultura daqui. Quando alguém vem para cá, tem que respeitar a cultura do país - declara a faixa-preta, que exalta a segurança dos Emirados, inversamente proporcional àquela encontrada no Rio de Janeiro, onde vivia e treinava. 
A faixa-roxa Brenda Heller também tem no vestuário a principal mudança em sua rotina em relação ao Brasil. A lutadora do Rio de Janeiro, que chegou a Abu Dhabi em dezembro de 2014, dá aula de jiu-jítsu em uma escola pública e afirma que consegue lidar com as barreiras encontradas na cultura local.
- Aqui eu ando mais coberta, muitas vezes com a calça e com os braços cobertos. É uma cultura do país. Foi difícil no início, mas já estou adaptada. A cultura é diferente do Brasil. Mas é muito tranquilo viver por aqui. Estou acostumada com tudo.
Do Brasil, a lutadora sente mais falta da família, porém, exalta o tratamento recebido pelos profissionais que trabalham com a modalidade, o que torna qualquer mudança estética pouco relevante.
- É muito difícil encontrar uma oportunidade dessas no Brasil. Lá algumas pessoas ainda olham para o atleta como uma pessoa que não gosta de trabalho. Nossa vida é essa, a gente se dedica bastante. o que o sheik faz pelo jiu-jítsu é magnífico. Ele coloca o esporte em outro patamar. Aqui, você não precisa trocar "socos" para ganhar dinheiro. O jiu-jítsu tem o valor que merece aqui.

* O repórter viajou a convite da organização do evento.

Por Marcelo Barone*
Direto de Abu Dhabi, EAU
Fonte: http://sportv.globo.com/site/combate/noticia/2016/04/em-abu-dhabi-pelo-jiu-jitsu-brasileiras-mudam-habitos-para-se-adaptarem.html

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