domingo, 10 de setembro de 2017

HIGIENISMO, PENSAMENTO BIO-MÉDICO E PEDAGÓGICO, INFLUÊNCIA E CRIAÇÃO DA EDUCAÇÃO FÍSICA (GINÁSTICA) COMO DISCIPLINA ESCOLAR


Esse texto será norteado pelo livro: Educação Física: raízes européias e Brasil (1994), escrito pela autora Carmen Lucia Soares que faz um relato histórico da constituição da educação física enquanto disciplina pedagógica, evidenciando a forma como a ciência positivista pautou as bases fundamentais da justificativa da educação física enquanto necessidade histórica de uma burguesia que se firmava como hegemônica na Europa do século XIX (1994, p. 11).
Focarei meu escrito na proposta da atividade do Capítulo Três: “A Educação Física no Brasil, Saúde, Higiene, Raça e Moral”, no qual Soares inicia com a afirmação de que em diferentes momentos da história, a Educação Física no Brasil se confundiu com as instituições médicas e militares. Isso fez com que o seu espaço e caminho fosse delineado num valioso instrumento de ação e intervenção da realidade educacional e social em nosso país (1994, p. 69). Antes disso, é preciso entender primeiro que as relações feudais foram rompidas na Europa Ocidental, criando uma nova sociedade regida pelas leis do capital, pautada na abordagem positivista da ciência. Tal modelo adotou um paradigma de conhecimento alicerçado na biologia e na história natural, passando a “produzir um conjunto de teorias que justificaria as desigualdades sociais pelas vias das desigualdades biológicas” (SOARES, 1994, p. 13). Dessa forma, o homem e as suas ações passaram a ser explicados pela biologia e pelas causas biológicas, ganhando assim um espaço naquela sociedade. Portanto, compreender esse corpo biológico permitirá o desenvolvimento de políticas públicas de controle das populações urbanas. Assim sendo, “o corpo dos indivíduos e o “corpo social” são tomados como objetos mensuráveis, passíveis de classificações e generalizações isentas de paixões e impregnadas da neutralidade própria da abordagem positivista de ciência” (SOARES, 1994, p. 27). Logo, essa   ... (clique em: Mais Informações)
interpelação concretizará na legitimação da medicina como a cuidadora do corpo humano.
Para Soares (1994, p. 41) no quadro político, social e econômico será elaborado mais uma forma de intervenção na realidade social, que operará tanto ao nível corporal dos indivíduos quanto ao nível do “corpo social”. Aqui refiro-me à Educação Física, que desde o século XIX chegou aos foros científicos com o seu conteúdo médico-higiênico e com a sua forma disciplinar voltada ao “corpo biológico (individual) para, a partir dele, moralizar a sociedade além de “melhorar e regenerar” a raça. Assim sendo, a Educação Física, reconhecida pela ciência médica, biológica e positivista, segundo Soares (1994) irá contribuir no espaço escolar para a manutenção e prevenção da saúde do corpo social, para ganhar espaço e ser pensada na Educação. 
Ainda, de acordo com Carmen Lucia a influência do pensamento científico positivista, da cultura, dos modelos e dos métodos sistematizados da Europa na educação brasileira, principalmente no que tange aos aspectos: higiênico, eugênico e moral passará a figurar como importante componente curricular. Componente este que irá participar, segundo Soares (1994, p. 88), “na construção anatômica que pudesse representar a classe dominante e a raça branca, atribuindo lhe superioridade”.
“Fruto da biologização e medicalização das práticas sociais” a educação física é aquela que vem para erradicar os males produzidos pelo acirramento da exploração capitalista. Foi “estruturada a partir do ideário burguês de civilidade”, representando os interesses desta classe dominante, confirmando como importante instrumento de opressão e dominação burguesa; “e, desse modo, constituindo-se em importante instrumento de construção da ordem” (SOARES, 1994, p. 158).
Portanto, de acordo com a análise histórica da educação física (1850-1930) realizada por Soares no livro Educação Física: raízes européias e Brasil (1994), foi demostrado que a educação física se mostrou como “científica”, atendendo aos critérios da cientificidade propostos pelo positivismo, base epistemológica da sociedade burguesa. E a autora deixa claro que o “corpo” na sua compreensão é histórico e submetido ao controle social. A educação e a educação física sistematizada são ferramentas pelas quais atuará nesse controle e nas suas necessidades essenciais de disciplina, ou seja, o treinar e educar moral e socialmente o “corpo”.

Por: Wander Venerio Cardoso de Freitas (Especializando em Treinamento de Força em Idosos; Especializando em Educação Física Escolar; Especialista em Ensino Religioso; Licenciado em Educação Física; Licenciado em Letras Português; Bacharel em Teologia; Licenciando em Pedagogia; Faixa Preta de Karate 2º Dan; Faixa Azul em Jiu Jitsu).

REFERÊNCIA
SOARES, Carmem L. Educação Física: raízes européias e Brasil. Campinas, SP: Autores Associados, 1994.

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